Por Marcelo Valadares, neurocirurgião*
O uso de material genético como tratamento para uma série de doenças é uma evolução na medicina e ganhou repercussão em razão da pandemia, justamente por conta da aplicação deste tipo de tecnologia no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19. Algumas delas injetam pequenas pedaços de RNA nas células que passam a produzir proteínas, as quais combatem o vírus. Mas qual a relação disso com a Doença de Parkinson?
Há uma série de pesquisas mundiais, algumas a serem concluídas já no ano que vem, que usam a terapia gênica para atenuar e/ou melhorar a função motora de pacientes com Parkinson. A proposta dos pesquisadores é autorregular a produção de dopamina, neurotransmissor responsável pela mensagem entre as células nervosas e que tem queda intensa na Doença de Parkinson.
Dentre elas, há uma pesquisa realizada por um grupo francês que estuda a injeção de material genético diretamente em estruturas cerebrais relacionadas à doença. Este DNA carrega informação correspondente não apenas a uma enzima, mas três enzimas (TH, CH1 e a AADC) envolvidas na produção de dopamina. Se os resultados deste estudo forem favoráveis, as células do cérebro destes pacientes se tornarão capazes de produzir a substância em quantidades adequadas para o alívio dos sintomas da Doença de Parkinson, podendo eliminar a necessidade de terapia medicamentosa. Embora ainda não acessível, precisamos ver que finalmente é possível falar na possibilidade de cura do Parkinson num futuro talvez não tão distante.
Na verdade, a medicina vem trabalhando constantemente para trazer melhor qualidade de vida aos pacientes de Parkinson, segunda condição neurodegenerativa mais incidente em pessoas com mais de 60 anos. Hoje temos medicamentos que ajudam a controlar os principais sintomas da doença, como os tremores, a rigidez e os movimentos involuntários. Outra alternativa segura e eficaz consiste na Terapia de Estimulação Cerebral Profunda (DBS), cirurgia que utiliza um dispositivo médico implantado, semelhante a um marcapasso cardíaco.
Já disponível no rol de procedimentos da rede pública de saúde, a DBS também tem evoluído. Indicada para pacientes que não absorvem bem a medição devido ao seu uso prolongado, a neuro estimulação, como a técnica também é conhecida, traz resultados bem precoces, notados horas depois da cirurgia. Inclusive, hoje existem tecnologias que nos permitem captar os sinais cerebrais do paciente e monitorá-los remotamente. Em breve, possivelmente nos “comunicaremos com o cérebro”, e não apenas interviremos. Ou seja, além das consultas regulares, ganhamos maior precisão no controle do Parkinson e passamos a atender de forma ainda mais assertiva às necessidades individuais de cada paciente.
Como aprendemos no último ano, é preciso confiar na ciência e na capacidade do ser humano de inovar e surpreender. As respostas podem não ser tão rápidas como queremos, mas estaremos sempre caminhando para trazer terapias que realmente fazem a diferença na vida dos pacientes com a Doença de Parkinson, bem como seus familiares.
* Marcelo Valadares é neurocirurgião, médico da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Hospital Israelita Albert Einstein.