Por: Alex Larsens
Será a Ucrânia o grande conflito de nossos dias? Importa não esquecer que nem a Rússia nem a Europa estão mais no centro do sistema internacional, como acontecia no século XX. A nova “Guerra Fria” acontece entre os Estados Unidos da América e da China. Sem entender isso não é possível entender o que poderá trazer a política mundial nos próximos anos.
As duas grandes potências são os Estados Unidos e a China
A China e os Estados Unidos são as duas grandes potências político-militares do nosso tempo. O fato de a Rússia ter o maior arsenal nuclear não muda essa realidade. China e EUA têm as maiores economias nacionais e a maior capacidade de transformá-las em forças armadas operacionais, a curto e a longo prazo.
A China, enquanto país mais populoso do mundo (enquanto não perder esse estatuto para a Índia), pretende assumir um papel bem mais ativo e dinâmico no funcionamento do sistema internacional. À oposição entre regimes e valores políticos (democracia americana vs governo de partido único chinês) sucede também uma competição geopolítica que coloca estes países frente a frente.
A Rússia: gigante com pés de barro
Vladimir Putin lançou, em fevereiro de 2022, uma “operação militar especial” que ele julgou ser suficiente para derrubar o governo de Zelensky. Rapidamente compreendemos que a operação foi semelhante a uma jogada em um cassino, como o Novibet ou outro equivalente, mais confiando na sorte e na audácia que em um bom planejamento.
O fato é que a Rússia, saindo do período soviético com uma economia atrasada, não encontrou exatamente o caminho do desenvolvimento. Muitas de suas receitas vêm da exploração do petróleo e do gás, que são comprados agora com desconto por potências terceiras (como China e Índia) que aproveitam o boicote europeu à energia russa.
Ninguém está vendo uma forma de a Rússia sair da situação econômica em que se encontra. Nem mesmo a conquista de uma Ucrânia inteira e não destruída pela guerra resolveria o problema.
O problema de Taiwan
Taiwan foi refúgio do partido nacionalista chinês no final da guerra civil da China em 1949 e desde então tem vivido de forma independente. Nas primeiras décadas, o Ocidente nem sequer reconhecia Pequim como representante da China, mas sim Taipé. Depois do entendimento entre China e Estados Unidos na década de 70, o mundo começou a reconhecer oficialmente Pequim como a “verdadeira China”.
Mas nem por isso a China comunista deixou de sonhar com a absorção de Taiwan e o apagamento dessa limitação a sua soberania. Entretanto, além de Taiwan ser uma democracia bem-sucedida (e a prova de que o sistema democrático não é incompatível com as civilizações asiáticas, como acontece na Coreia do Sul e no Japão), é também uma potência na produção de semicondutores, indispensáveis para as economias modernas baseadas em computadores.
O presidente americano, Joe Biden, repetiu recentemente que os Estados Unidos defenderão Taiwan em caso de ataque militar pela China.
O exemplo da Índia e o rumo do Brasil
A Índia vem se afirmando como a grande potência neutra em meio ao conflito da Ucrânia. Comprando petróleo russo barato, não condena em voz alta a invasão russa para manter boas relações, mas não afasta o Ocidente, até porque conta com os Estados Unidos como possível aliado em caso de guerra contra a China (esse é o objetivo do fórum Quad, que junta Índia com Estados Unidos, Austrália e Japão). Alterações do status quo pela força não são aceitáveis para ninguém.
O Brasil deveria se livrar de orientações ideológicas e definir o interesse, seu e da comunidade internacional em seu conjunto, nessas matérias. O exemplo indiano poderá servir como referencial.
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