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Quousque, Praeses et ad præsides, et tandem abutere patientiae nostra?

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O governador do Estado, Rui Costa dos Santos (PT), deu uma guinada de 180º no discurso que vinha adotando e que norteou a Carta do Nordeste, divulgada pelos governadores nordestinos para condenar o discurso do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (Sem Partido), na noite da terça-feira (24), quando, em nossa opinião, irresponsavelmente, contrariando todas as recomendações de infectologistas e, mais ainda, as consequências da proposta mundo afora, sugeriu que as medidas restritivas de circulação de pessoas e funcionamento de empreendimentos comerciais e industriais fossem abrandadas e que houvesse, como ressaltou, um “confinamento vertical”, que na prática significa que apenas idosos e portadores de doenças crônicas fosse obrigados a manter o isolamento social.

Na manhã desta quinta-feira, 26, durante uma reunião virtual com prefeitos de todo o Estado, o petista adotou um discurso muito próximo do pronunciamento do presidente da República, primeiro ao não admitir a impotência  do Estado em disponibilizar minimamente os recursos para que a situação pudesse ser fielmente retratada – já que não há testes para detectar a doença em número suficiente, o que mascara negativamente os indicadores oficiais – e depois ao sugerir, embora não explicitamente, mas nas entrelinhas, que as cidades onde ainda não tenham sido detectados pacientes infectados – mesmo tendo consciência de que essa realidade é muito diferente dos números disponíveis – revoguem ou atenuem os Decretos que restringiram o funcionamento do comércio varejista e de serviços e de empreendimentos que não são considerados essenciais para a sociedade.

A mudança no tom do discurso do governador, que já está sendo repercutida por prefeitos que igualmente fizeram coro com as manifestações de repúdio ao pronunciamento do presidente da República, reforçam a crença de que a população brasileira, lamentavelmente, está exposta às disputas políticas e ideológicas e que, os agentes públicos que deveriam representar os interesses dos mais de 200 milhões de brasileiros, grande parte deles vivendo próximo ou em situação de vulnerabilidade social, estão na verdade, preocupados em somar às suas biografias cargos na estrutura do poder.

É criminoso saber que, diante de uma pandemia cuja gravidade ainda não pode ser mensurada, mesmo considerando o preocupante número de óbitos registrados mundo afora, e que o número de assintomáticos e potenciais transmissores da doença não pode ser medido, no Brasil e na Bahia, em particular, por absoluta falta de testes para confirmar ou descartar os casos suspeitos, além, evidentemente, do despreparo das equipes – seguramente por falta de estrutura – para fazer os acompanhamentos e informar de forma correta (ou seria honesta?) à população.

O governador, que repudiou o pronunciamento do presidente e agora, sugere que prefeitos, a maior parte deles de municípios sem a mínima estrutura para atender seus munícipes, a adoção de medidas, embora aparentemente mais amenas, absolutamente iguais às propostas no pronunciamento do Bolsonaro, tem consciência, até porque tem ao seu lado um técnico de reconhecida competência, o médico e secretário de Estado Fábio Vilas-Boas Pinto, que os números exibidos diariamente não refletem a realidade, que a subnotificação, principalmente por falta de material para coleta de amostras da população, é flagrante. E preocupante.

Sabe o governador, até porque já foi repetido à exaustão, por infectologistas, a tese de que praticamente toda a população já foi ou será infectada. Sabe, mais ainda, até porque, quando a epidemia já era uma realidade mundo afora, não apenas patrocinou como incentivou a realização do carnaval, em nome dos dólares das milhares de pessoas que vieram de locais onde a doença já se alastrava para irrigar as contas de alguns setores da economia, já que outros, se lucraram, estão tendo ou terão de arcar com os custos da crise.

É uma pena que essa postura esteja sendo adotada pelo governador que tem seu nome cotado – muito bem cotado, importante ressaltar – e já sinalizou o desejo de disputa a presidência da República.

O Brasil, que entendemos merece um presidente da República que seja mais que honesto – até por que isso é obrigação – e capaz de compor uma equipe de técnicos altamente qualificados – que podem até ser contestados pelos métodos, mas não pela qualificação – mas, se considerarmos os nomes que já despontam no cenário político como possíveis candidatos, vai ter de conviver mais tempo ainda com os inconsequentes que preferem construir estádios de futebol, à hospitais; dos que se imaginam “enviados do Céus”, ou dos que dissimulam qualidades que não tem.

Mais de dois mil anos atrás, o rei Salomão, sublinha a Bíblia, cunhou a sentença: “Não há nada de novo sob o sol”. A crise provocada pela pandemia do Covid-19, mostra que, no Brasil, essa é uma verdade que não assombra e se reflete no pingue-pongue das mentiras e verdades proferidas pelos protagonistas da cena política.

Estivesse hoje na tribuna do Senado da República do Brasil, como esteve no ano 63 a.C no Templo de Júpiter, em Roma, Marco Tulio Cícero não hesitaria em protestar, em alto e bom tom: Usque ergo, Praeses abusi sunt, et satrapæ, patientia nostra?

Que a população baiana exerça a desobediência civil e preserve a sua vida, de seus familiares e a do vizinho. Continuem em casa!

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745