No município com maior número de quilombolas da microrregião, mais de 85% da população foi vacinada contra a doença
Por: Janary Bastos Damacena/Brasil61
A vacinação é uma das principais formas de prevenir a Covid-19 e de manter preservadas as comunidades quilombolas, diminuindo a quantidade de pessoas com sintomas, casos graves e óbitos pela doença. Por isso, o governo federal está empenhado nas ações do plano de enfrentamento da pandemia para as populações dessas comunidades.
Segundo a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Francieli Fantinato, é de extrema importância a vacinação nas comunidades quilombolas. “As comunidades quilombolas são populações que vivem em situação de vulnerabilidade social. Elas têm um modo de vida coletivo, os territórios habitacionais podem ser de difícil acesso e muitas vezes existe a necessidade de percorrer longas distâncias para acessar os cuidados de saúde. Com isso, essa população se torna mais vulnerável à doença, podendo evoluir para complicações e óbito”, afirmou.
A microrregião quilombola de Santo Antônio de Jesus possui mais de 21 mil pessoas e está distribuída por nove municípios da Bahia: Muritiba, Cruz das Almas, Maragogipe, Cachoeira, Santo Amaro, Nazaré, Salinas da Margarida, Jaguaripe e Muniz Ferreira. Destes, o que concentra a maior parte dessa população é Maragogipe, com quase 12 mil quilombolas.
A cidade está dando um exemplo de cuidado para com sua população no que diz respeito à vacinação contra a Covid-19. De acordo com o secretário de Saúde do município, Filype Kaike Rocha, todas as enfermeiras e técnicos de saúde foram organizados em uma ação para tornar o trabalho de vacinação mais efetivo. Com a estratégia de ir às comunidades quilombolas, o quantitativo da população vacinada até o momento é maior que 85%.
“Voltamos nossas equipes para fazer essa vacinação pelas comunidades. Tem algumas com acesso um pouco restrito, então, precisou ser feito através de barco. As outras têm acesso por meio de carro e as mais próximas, os profissionais foram andando mesmo, até a comunidade, para conseguir fazer essa vacinação”, explicou o secretário de Saúde.
A maior parte dos quilombolas que ainda não foram vacinados contra a Covid-19 são de trabalhadores e estudantes que estão em locais mais afastados ou ainda não retornaram para a cidade. Dessa forma, as unidades de saúde locais estão recebendo as pessoas para aplicar a imunização. A técnica de enfermagem Jucidalva Santos é uma das pessoas que saíram a campo para realizar a proteção dos quilombolas. Ela conta que, mesmo nas localidades mais distantes, a população foi muito receptiva.
“A vacinação pelas comunidades, de uma forma geral, foi tranquila e bem aceita. As pessoas entenderam esse momento como uma contemplação em meio à pandemia, pois receber a vacina contra uma doença que está castigando o Brasil é uma benção. Então, tem sido muito bem aceita por onde passamos”, destacou a enfermeira.
Atanildes Matos é líder comunitária do Quilombo Enseada do Paraguaçu, que faz parte da microrregião de Santo Antônio de Jesus. Ela trabalha como marisqueira, professora e ainda encontra tempo para se dedicar à vida acadêmica de Estudos de Gênero e Diversidade na Universidade Federal da Bahia. Por isso, Atanildes sabe da importância de ter as comunidades quilombolas protegidas contra o vírus da Covid-19 e faz um apelo.
“Nós, como pessoas pretas, somos resistentes e não é dessa doença que vamos ser acometidos. Então chamo todos os nossos parceiros, nossos companheiros, para que se vacinem, se imunizem contra essa doença que é tão perigosa. A vacina não causa nenhum tipo de dano à saúde, pelo contrário, ela nos protege. Então, nós, quilombolas, temos que nos unir contra essa doença tão perigosa e a maneira que nós temos agora de nos prevenir é tomando a vacina”, convocou a líder comunitária.
Prevenção contra a Covid-19
A vacinação é a forma mais eficaz de prevenção contra a doença, mas hábitos saudáveis também são importantes para se manter bem longe da Covid-19:
- Lave as mãos constantemente com água e sabão;
- Se você estiver em um local onde não é possível lavar as mãos, pode usar um álcool em gel para fazer a higienização – é preciso ser álcool 70%;
- Evite ficar em lugares fechados com muitas pessoas;
- Mantenha uma distância de pelo menos um metro e meio de outras pessoas quando estiver fora de casa;
- Sempre que sair, use a máscara;
- Não toque nos olhos, no nariz ou na boca.
É importante lembrar que ao sentir qualquer sintoma da doença, é preciso procurar, o quanto antes, uma unidade de saúde para evitar transmitir o vírus para outras pessoas e receber o atendimento imediato – que pode ajudar a reduzir a forma grave da doença.
Importância dos agentes comunitários
Para que esse trabalho de vacinação pelas comunidades quilombolas seja realizado de forma mais rápida e segura, é importante, ainda, entender o papel dos agentes comunitários de saúde e das equipes de saúde da família – que são fundamentais no cuidado à saúde e, também, podem tirar dúvidas sobre a vacinação.
Mais conhecidos pela sigla ACS, os agentes comunitários de saúde têm o papel de realizar a prevenção em âmbito familiar, indo de casa em casa de uma determinada comunidade – e que geralmente é onde o próprio agente mora. O papel exercido por esses profissionais é a ligação entre os domicílios, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e a comunidade. O agente também atua em espaços comunitários, com objetivo de esclarecer a população e ajudar na prevenção de doenças e a saúde, desenvolvendo, junto à sociedade, ações empreendedoras.
Entre os esforços dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) estão:
- Cadastrar todas as pessoas de sua microárea e manter os cadastros atualizados;
- Acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. As visitas deverão ser programadas em conjunto com a equipe, considerando os critérios de risco e vulnerabilidade de modo que famílias com maior necessidade sejam visitadas mais vezes, mantendo como referência a média de uma visita/família/mês;
- Desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção das doenças e agravos e de vigilância à saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações educativas individuais e coletivas nos domicílios e na comunidade, por exemplo, combate à dengue, malária, leishmaniose, entre outras, mantendo a equipe informada, principalmente a respeito das situações de risco.
Plano de enfrentamento da pandemia da Covid-19 para as populações quilombolas
O Governo Federal lançou, agora em maio, um painel interativo para que a população possa acompanhar a execução das ações relativas ao plano. O plano tem o objetivo de beneficiar mais de 1,4 milhão de quilombolas em todo o País com ações de segurança alimentar e de saúde. Os dados da plataforma são referentes às iniciativas realizadas em 2021 e estão divididos em seis grupos:
- Execução do plano
- Cestas Alimentares
- Merenda Escolar
- Auxílio Emergencial
- Vacinação contra Covid-19
- Comunidades Certificadas