Acabei de ler dois artigos na edição de hoje (08/09) de ZH. No primeiro, o economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, também membro do Grupo Pensar+, mostra que no governo de Tarso Genro (2011 a 2014), a folha de pagamento cresceu nominalmente 61% (2,3 vezes a inflação do período) enquanto a receita aumentou 40%. No biênio seguinte, já na gestão de José Ivo Sartori, a folha incorporou novos R$ 3,7 bilhões, sob impulso de reajustes concedidos na gestão anterior em parcelas que se projetaram para os anos seguintes. As decisões legislativas que penduraram esses aumentos no prego para serem pagos por quem viesse depois eram declamadas em prosa e verso na tribuna e festejadas nas galerias da Assembleia Legislativa. Até que…
Até que o inevitável acontecesse, dando motivo ao segundo artigo das minhas leituras matinais neste 8 de setembro. A autora, Marisa Piedras, é professora e se queixa do atraso do pagamento de salários, que transforma os servidores em miseráveis “à espera de esmolas mensais”. A qualificada articulista, mestre em Letras, descreve, com palavras extraídas de profunda aflição pessoal, a penúria a que o parcelamento conduz os servidores do Executivo. E conclui: “Caríssimo governador, pare de parcelar nossos salários, é só isso.
Ah, se fosse tão simples assim! O autor do primeiro artigo ajuda a entender os fatos que dão causa à angústia da professora e de centenas de milhares de servidores estaduais:
“Se a folha de pagamento tivesse sido reajustada pela inflação acumulada (51%), o que é plenamente aceitável em momento de crise, ela iria para R$ 20,3 bilhões em 2016. E, com isso, ficaria R$ 5 bilhões a menos do que R$ 25,3 bilhões citados. Com essa economia, o déficit estadual seria eliminado e, em decorrência, os atrasos de pagamento dos salários.”
Isto, sim, teria sido simples. Mas, sabidamente, os aplausos das galerias teriam sido substituídos por vaias que ninguém gosta de ouvir, vaias que requerem dose adicional de responsabilidade e vontade política. A propósito, bem mágica esta palavrinha. Muitos creem que “vontade política” é uma disposição moral que opera como varinha de condão, capaz de transformar a realidade. De certo modo é o que a professora do artigo pede ao governador e, por isso, podemos construir assim sua frase final a “Governador, tenha vontade de nos pagar em dia”. Ah!
No entanto, “vontade”, na vida pública ou privada, na vida social ou individual, não é um atributo que nos permite fazer o que queremos por disposição do próprio querer, mas é um atributo moral que nos orienta a fazer o que devemos quando muito mais fácil e prazeroso seria fazer o que não convém.
Por isso, concluo esta breve reflexão em companhia do sempre bom Padre Vieira: “Quem quer mais que lhe convém, perde o que quer e o que tem”.